1084 Brasil, H. Dobal, poesía, deceso

Dobal (Teresina, PI) jan/2001, foto remetida por Paulo Cunha
Amigo(a),

Acabamos de perder H. Dobal, um os maiores expoentes da poesia brasileira contemporânea. Éramos amigos. Sofria de parkinson e ultimamente seu estado de saúde vinha se agravando. Prefaciou meu primeiro livro de poemas, «O Salto sem trapézio». E escreveu seu último prefácio, também para um livro meu, «Perfume de resedá», ainda inédito, a ser publicado até o final deste ano. Sempre que podia, quando ia a Teresina, no Piauí, visitava-o na companhia de amigos, nas famosas «dobalinas». Dobal era uma dessas pessoas inesquecíveis.
Há alguns dias eu vinha escrevendo alguma coisa em versos, sobre ele. Quando me chegou a notícia de sua morte, agora há pouco, apenas completei o texto que segue abaixo, juntamente com alguns dados biográficos que puxei da internet.
Outro dia escrevi, e repito agora, com uma certeza ainda mais clara:
marretadas não abolem
uma verdade maior
nenhum verso vira pó
todo verso vira pólen.
Um abraço.
Paulo José Cunha

Um brinde ao amigo H. Dobal

Ergo um poema ao poeta

como se uma taça ao brinde.

Um brinde ao riso afável, honesto, verdadeiro

do operário calmo das palavras,

do mestre de desapegada vaidade

incapaz de grito ou impropério,

mas capaz de levantar

enormes e frágeis catedrais

feitas de versos.

É ler Dobal

para sentir-se em meio

ao seco das caatingas,

no largo dos sertões,

ardendo,

in vitro

à fumaça do ferro em brasa

marcando bois e homens.

É conhecê-lo

para aprender

que toda glória é vã,

além de arredia aos que a perseguem.

A alegria guardado nas retinas

e o macio da mão trêmula

distraem o sorriso de menino travesso,

que ironiza vida e fama

por saber

que os pombos sempre cagam nas estátuas.

O que fica, para além da vida,

e ele bem sabe,

é o brinde que se ergue,

além do nada,

e os versos que se cantam,

além da glória,

a um tempo de carinho e amizade.

Agora, de repente, tudo é pouco

e tão grande, apenas na memória:

A conversa amena, regada a café com bolos fritos,

umas risadas, os afagos dos velhos companheiros,

ao redor de sua cadeira preguiçosa,

nas manhãs dobalinas de domingo.

Morreu Hindemburgo Dobal Teixeira.

Viva H. Dobal!

(A poesia de Dobal, como bem disse Cineas Santos, no e-mail em que acaba de me comunicar a sua morte, resistirá).

1 comentario

  1. Olá, Paulo José Cunha
    Aparentemente você não me conhece e nem eu lhe conheço, mas isso é fictício, uma vez que ambos admiramos profundamente a poesia de H.Dobal. Escrevo aqui hoje apenas para dizer que, embora aguardando sua permissão, já estou copiando este seu pequeno depoimento sobre Dobal para postá-lo na comunidade que há em homenagem ao poeta no Orkut desde 2005. Eu, de minha parte, que não conheci o homem Dobal, só sua poesia, fico pensando o quanto é importante para os que também só pela obra o conheceram saber algo sobre esse grande fazedor de versos através do testemunho dos que o conheciam e prezavam.
    Cordialmente, Henrique Vieira.
    (Eis o link da comunidade: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=1376286)

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